Wednesday, April 26, 2006

I´bane

No dia seguinte arrancamos pela madrugada para Inhambane – I’bane para os amigos. Vamos num Pajero longo que a Filipa nos emprestou pois lá para cima o 4x4 é altamente recomendado e até obrigatório para os locais onde queremos ir. Incrível a diferença de desenvolvimento de Maputo vs resto do país… a partir do Xai-Xai (que fica a 200 km de Maputo, num país que tem prai uns 2000 de comprimento é uma desgraça. A estrada estreita, nascem buracos por todo o lado, desaparecem as bermas… até há troços que são de terra (imaginem o lamaçal quando chove…). Os centros de saúde das povoações são pequenas casas certamente sem equipamento e as palhotas tornam-se a habitação predominante. Mesmo I’bane, uma das cidades do país está muito deserta. Parou no tempo… para terem uma noção, corremos os restaurantes e cafés todos no sábado e nenhum tinha TV para se ver o futebol. Acabámos por ver numa residência de estudantes da universidade da terrinha! Quando o Porto ganhou foi um festival, mas pelo que tenho visto, se fosse o Sporting o vitorioso a festa seria igual. Este povo quer é festa!

Assim como a ponta do ouro, estas praias são também colonatos sul africanos. Tudo é invadido por eles campinómanos que com os seus super4x4 que até casa de banho devem ter. Invadem Moçambique mas não deixam cá nada pois trazem tudo, rigorosamente tudo, da Africa do Sul… Os campings e resorts onde ficam e os bares que frequentam são também de sul africanos e em todos somos atendidos em inglês… os preços são em Rand, etc.

Quanto às praias propriamente ditas – principalmente Tofo e Barra, devo confessar alguma desilusão (se calhar também por causa de ter andado 1200 km para lá ir e voltar…). O Tofo é uma espécie de fonte da telha, mas com água mais quente. A Barra, um pouco mais exótica pelo seu branco areal ladeado de coqueiros e águas transparentes deixou-me um pouco mais satisfeito, mas não apaga o sentimento de frustração pelos 1200km de viagem… acredito que sejam locais fantásticos para mergulho, razão pela qual hei de voltar – breve – quando tiver o curso.
Embora tenhamos trazido tendas, o Osvaldo põe completamente de lado a hipótese de campismo e assim ficamos em lodges. Na primeira noite, no Tofo, ficámos numa camarata de 10 camas (mais para backpackers) e na segunda, já na Barra, num chalet rodeado de coqueiros mesmo à beira mar. Saímos do chalet (com cozinha) e vamos para a praia onde volta e meia passam mamãs a vender peixe e camarão recém pescado… Não se está mal! O único problema são umas medusas que andam no mar e quando picam deixam umas marcas dolorosas… lado positivo: o mar está tão transparente que essa bicharada se consegue ver a relativa distância. Ainda assim não consigo relaxar e completamente usufruir do belo local onde estou.
Visitámos também o famoso Flamingo Lodge. Fomos beber uma laurentina no bar porque o Afonso estava lá também a passar o fim de semana com a família. O spot é bonito, mas naturalmente não é como as fotografias no web site o pintam… o fotógrafo deve lá ter passado uma semana para fazer meia dúzia de fotos e depois, a sensação à chegada é uma quase invariável desilusão (principalmente para quem vem de Portugal e paga um balúrdio para passar ali uma semana…).

Nas zonas de passagem de turistas já se vêm crianças com as habituais macaquices (neste caso dançavam cobertos com ramos) para cravar desesperadamente qualquer coisa… isto tira-me do sério… cria péssimos hábitos para as crianças e nas zonas que já têm este tipo de turismo há mais tempo os putos chegam até a mandar pedras a quem não dá nada.
E nós, turistas, invariavelmente damos qualquer coisa, ou pior ainda – atiramos dos carros em andamento… pode ser com a melhor das intenções, mas de boas intenções está o inferno cheio… não façam isso por favor. As crianças esfolam-se pelas canetas ou rebuçados, andam à porrada e por vezes até são atropeladas no meio destas sessões de “bom samaritanismo” de quem passa e na altura quer ajudar e fazer qualquer coisa para se sentir melhor, mas que depois rapidamente esquece o problema… é tão fácil: “ahhh coitadinhos… que condições miseráveis…” “deixa dar qualquer coisinha…”
Querem ajudar? Ajudem as associações que desenvolvem trabalho nessas regiões, apoiem a nível da comunidade, envolvam-se. Há varias entidades credíveis que aceitam ajuda. Tudo é mais útil do que atirar rebuçados e umas moedas como quem atira migalhas de pão seco aos pombos… Já pensaram que se tivessem crescido num local em que todos os dias passava alguém que deixava 500 ou 1000 paus se estivessem na beira da estrada a fazer macaquices certamente não seriam o que são hoje? Opção: ir para a escola e apenas receber estímulo, educação e orientação (bens pouco tangíveis para crianças) ou ir para a beira da estrada e chegar ao fim do dia com uns trocos e rebuçados no bolso? Escolha complicada…

Eu também tive esse comportamento – vejo hoje, de babuíno – a primeira vez que fui a Marrocos, mas rapidamente me apercebi que fazia mais mal do que bem e deixei de o ter. E o que levo em troca? Agressividade por parte das crianças, porque não dei nada e incompreensão por parte das pessoas a quem eu peço para não fazer isso e tento explicar as razões…

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