Saturday, December 30, 2006

turismo responsável

Certo dia, estava a contar as aventuras de uma viagem que tinha feito ao longínquo Nordkapp quando a minha ouvinte/interlocutora, respeitável representante de uma geração mais antiga, exclama, “esta geração sente uma enorme nostalgia de aventura”.
Na altura, pouco liguei a esta afirmação, mas, efectivamente, a maioria de nós vive em razoável equilíbrio, com as necessidades básicas asseguradas. A sociedade impõe-nos um pacote de preconceitos e oferece-nos uma estrutura social escrupulosamente organizada, o que não nos dá grande margem para voos aventureiros ou actos heróicos. De facto, longe da luta pela sobrevivência dos nossos ancestrais antepassados e das lutas políticas e estudantis dos anos 70, temos de procurar outras aventuras, outras formas de conseguir a viciante e amada adrenalina!
Para uns, são os desportos radicais, para outros, as motos, os carros, a pesca, a noite, a dança, e para outros, pasmem-se,... o trabalho.
Quanto a mim, o que me desafia e dá adrenalina (daquela tipo long drink e não em shot) são as viagens. Mas viajar não é, para mim, atravessar o mundo e ir enterrar a cabeça na areia de uma qualquer estância “exótica” de luxo. Viajar, como apreciar um bom tinto, implica escolher, cheirar, beber, saborear, deixar que se difunda em nós e, por fim, assimilar o que interessa e eliminar o que não. Novamente, como um bom vinho viajar por vezes sabe bem só porque sim. Mas na maioria dos casos, deve ser tido como complemento de algo.
De facto, sempre que fui de férias só por ir de férias, não consegui a completa catarse do cansaço e dos problemas do ano. Por isso, durante o ano procuro desenvolver um projecto a executar (/desenvolver) nas férias. Normalmente, em conjunto com um grupo de amigos, escolhemos/ traçamos um objectivo, estudamos a sua viabilidade e, depois, deliciamo-nos com os preparativos. Os desafios são tantos que, durante o mês das férias, nem muito ao longe me passam pela cabeça os problemas do trabalho, da família ou da universidade.

Claro que também me sabe bem o dolce faire niente, mas para isso não é preciso ir para o outro lado do mundo. Acreditem! Em Portugal, somos muito bons nessa arte. Basta um fim-de-semana sem stress, junto ao mar, com um bom livro e... já está!

Já para férias “a sério”, ajudar a restaurar templos budistas na Mongólia, contribuir para a preservação de uma barreira de recife, ou atravessar o Sahara numa complicada missão logística para entregar medicamentos no Senegal são interessantes exemplos de actividades que se podem desenvolver.

Com base na minha (ainda) curta experiência, descobri que vivemos muito de estereótipos, de preconceitos e de mitos impostos pela comunicação social. O mais assustador é que, apesar de cada vez viajarmos mais, pouco aprendemos sobre os locais para onde vamos. Limitamo-nos – como dizia Miguel de Sousa Tavares – aos programas de alegria programada e de felicidade comprada a prestações onde só vemos/conhecemos o que nos querem “vender” e, no fundo, não aprendemos nada sobre as comunidades locais, a sua cultura, os seus problemas… até a economia local é pouco estimulada, pois o grosso dos lucros vai para as estâncias de luxo de grandes grupos financeiros.

A alternativa, baptizada por outros povos – talvez mais conscientes – de turismo responsável, baseia-se em oferecer algum do nosso tempo e talentos, contribuindo para o desenvolvimento de um projecto social, cultural ou ecológico num país com poucos recursos. Esta abordagem é também muito enriquecedora para o turista que, desta forma, ingressa efectivamente numa comunidade, apre(e)nde o lugar, a sua cultura e suas gentes.
Estas experiências mudam o modo como vemos o mundo e levam, por vezes, a importantes descobertas sobre nós próprios. O que experimentamos e aprendemos fica totalmente imiscuído/imbuído em nós, influenciando o modo como vivemos, pensamos, sentimos... e em sentido mais lato, alterando a nossa filosofia de vida.

Se muitas pessoas entenderem esta visão, os resultados poderão ser assinaláveis. (OU: Quanto mais pessoas interiorizarem o verdadeiro significado da palavra ‘viajar’, mais assinaláveis poderão ser os resultados das viagens…)
Os interessados poderão utilizar o potencial da Internet para procurar mais sobre o assunto.

3 comments:

Anonymous said...

Estas viagens que nos ficam gravadas no coração, são as mais lindas recordações que lpodemos transportar durante as nossas vidas. Novas culturas, o aprender com as pessoas que nos recebem de braços abertos....é demais valioso.
excelente post.
Espero que a vinda a Portugal tenha corrido bem.

said...

:) atingiste o ponto!

bjs e boa sorte para o regresso

Anonymous said...

A palavra que me veio logo á cabeça assim que acabei de ler o teu blog foi: Espetacular!! Não só pela maneira como descreves (da maneira possivel) a essencia africana, mas também porque estou a caminho de Maputo e pelas tuas palavras já pude "ver" um pouco daquilo que me espera!!Só um pouco, eu sei!!
Muitos Parabéns!!
Maria