Nos meus primeiros dias em Maputo, já quase há dois anos, estranhei a quantidade de armas que desavergonhadamente se mostravam a cada esquina. Nas mãos dos polícias, nas mãos dos guardas que dormem à porta dos prédios, nas mãos de bandidos, etc. Rapidamente me habituei a conviver com as velhas AK47 Kalashnikov conhecidas por serem fiáveis, certeiras e também por serem a arma que mais gente matou no mundo.
Durante o ano passado no entanto, nunca vi nenhuma disparar. Ouvi algumas vezes, mas nunca vi.
Ora o mesmo já não se pode dizer este ano... Amiga com carro alvejado, relatos e relatos de tiroteios, tiros à porta do restaurante, tiros na estrada, tiros nos passeios, tiros à porta do trabalho... hummm... começa a ser demais não?
Afinal estas velhas armas às quais me habituei tão descansado que eram só para fazer figura ainda disparam.
Hoje acrescentei mais uma experiência à minha lista de experiências exóticas: rajada de kalashikov numa rua escura dá boa luz. Ao contrario da maioria das experiências que junto nesta lista esta não é – de nenhum prisma – interessante ou divertida.
Ia a casa de uns amigos e seguindo por uma rua escura (a 100 metros da melhor zona da cidade) vi de relanço a sombra de policias a correr (pareceram me policias pelos chapéus). Escaldado com a “acção” dos últimos tempos intuitivamente travei forte e ao mesmo tempo sai uma rajada tiros. Marcha atrás, pé a fundo no acelerador e a pobre L200 arranca numa chiadeira digna de hollywood. Depois de me afastar um pouco faço uma inversão de marcha meio desajeitada (comparada com aquelas dos filmes americanos) mas de uma rapidez nunca experimentada, que roçou o capotanço, tangentes a árvores e violentos abanões ao galgar uns passeios. A arte da manobra mudou de sitio tudo o que estava dentro do carro (menos eu porque levava cinto de segurança). Cinco minutos mais tarde, depois de apanhar os óculos de sol e carteira caídos num canto, o telemóvel noutro e uma caixa de xiclas a custo descoberta debaixo de um banco ainda me tremiam as pernas e a voz. Sou um menino, eu sei...
Srs policias, se me estão a ouvir: armas automáticas não se podem disparar assim de animo leve, durante uma corrida atrás de um carteirista qualquer ok? Todos sabemos que os senhores andam com os nervos à flor da pele, que ganham um salário de miséria, etc. mas ha uma coisa que deviam (dica de leigo hã!) começar a ter em conta: danos colaterais!
1 comment:
...é sem dúvida uma das coisas que precisa mudar para que Maputo recupere em pleno a tranquilidade de outros tempos.
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