Friday, April 21, 2006

MAPUTO@LAST!

Maputo

Maputo é de facto uma cidade sui generis. A grandiosidade com que foi planeada e construída, os mimos disponíveis (centros comerciais ao estilo europeu, restaurantes, salas de espectáculo, health clubs, etc.) e a vida cosmopolita e animada que levam os seus habitantes encontram a cada esquina poderosas antíteses. São caixotes de lixo submersos de tão sobrecarregados, são as ubíquas shotguns e kalashnikovs que sem pudor se mostram pela cidade a qualquer hora e qualquer lugar, são as heranças de guerra como o não parar nos vermelhos à noite e as grades em todo o lado.
Charmosa e problemática, Maputo é ao mesmo tempo capaz de envergonhar Paris e rosnar a São Paulo! Tão depressa estamos num climatizado centro comercial a levantar dinheiro em modernas ATM como de seguida encontramos os guardas à porta do prédio a jogar damas num tabuleiro de cartão com as casas traçadas a bic cristal em cima de uma cadeira de plástico apenas com duas pernas. E as peças? Caricas. De Laurentina (cerveja) para um e para o adversário, de Coca-Cola! Outras vezes, regresso a casa mais tarde e lá estão eles a cumprir o seu dever: dormir ferrados.

Tão depressa apanho um táxi torto e podre onde pura e simplesmente as portas não fecham, abana por todos os lados, está sempre a ir abaixo, só trava de duas rodas, etc. etc. etc., como de seguida vejo passar um HummerH2, ou um qualquer BMW ou Mercedes topo de gama. Muitos carros têm as peças marcadas para não serem roubadas – por exemplo, cravam-se as portas com rebites escrevendo siglas.
Tudo se vende nas ruas: artesanato, mont blancs, tanques de água, rolex, ray ban, fruta, legumes, peixe, pregos, escapes, fichas triplas, recargas para telemóvel (giros), tabaco avulso, etc. etc. etc., tenho a certeza de que se perguntar, até caixões me aparecem para escolher e regatear preço.

Uma nova cultura urbana com bastiões como o Hip-Hop e os carros “tunning” contrasta com as romarias das mais variadas crenças indígenas. Para os lados da costa do sol, até de madrugada se vê pessoal com trajes estranhos no mar, com água pela barriga a fazer feitiçarias.
E a diversidade étnica e cultural? Melting pot! Olho para um lado e vejo uma mulher muçulmana tradicional a fazer caretas com um bebé loirinho ao colo de uma senhora preta. Olho para o outro e vejo passar indianos, asiáticos e pelo meio alguns tugas de gema (pança, camisola de cavas e tudo!).
Os milhares de milhões de cafés e esplanadas da cidade são do melhor para beber tudo isto e empurrar com um copo de laurentina gelada!

Nas mesmas condições que eu vieram para Maputo mais 4 estagiários e resolvemos morar juntos. Alugámos um fantástico e enorme “flat tipo 4” com um salão de baile. Vamos ficar os 5 durante os 9 meses do estágio a pasmar com a vista do nosso 12ºandar… As traseiras têm vista para o mar. Curtimos costa até onde a vista alcança para os dois lados e de noite, por vezes, uma gorda e amarela lua surge do Indico e sobe, entrando-nos pela sala e cozinha dentro.
Para a frente, temos o cruzamento das que são as principais avenidas da cidade e avistamos pérolas como o famoso Piri-Piri. Como não podia deixar de ser, toda a grandiosidade do nosso prédio, a inteligência com que se encontra dividido e a sua localização fantástica contrastam com um avançado estado de degradação, com as portas duplas com grades, várias fechaduras, barras de ferro e cadeados. Quando finalmente abrimos as portas do nosso refúgio e pomos o pé no hall, há por lá sempre baratas (de dimensão generosa) a passear. Dos 3 elevadores apenas um se encontra a funcionar e esse… Jesus… abana, chia, treme, geme e tem tantos truques para ser utilizado que o condomínio contratou dois “motoristas” – o Sr. João e o Sr. José. Fazem turnos de 24 horas, alternados para a “condução” deste estóico tributo à engenharia portuguesa!

Tenho conhecido muita malta interessante. Alguns são ex estagiários do mesmo programa em que estou que aceitaram propostas de trabalho cá, outros, pessoal de ONGs, missionários, etc. Aprendo que afinal o país ainda não está desminado, acabou foi o dinheiro dos projectos de desminagem que havia e assim as ONG que tratavam disso foram embora, deixando ao esquecimento um problema bem real. Aprendo. Aprendo isso e outras coisas.

2 comments:

Lara said...

Vejo e revejo o teu blog....e fazes-me inveja!Desculpa por este sentimento tão "sem graça" mas fazes-me sentir com pena de não estar na minha terra, pensar que estou a perder todo esse calor que só se sente aí!E revejo-me nas tuas fotos, em Maputo, no Kruger, na baleia, na Ponta de Ouro, Tofu, enfim...mais palavras para quê!?Moçambique é LINDOOOO e é a minha terra :-)
Parabéns pelo Blog, pelas fotos lindíssimas e pelas palavras que tão bem descrevem as sensações!

mulato said...

Obrigado!

=)